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Compaixão é a resposta

Não dá mais para ignorar a grande panaceia, a visão mais pacificadora, a origem de todas as ações benéficas


Este artigo foi originalmente publicado no medium do Olugar.org pelo nosso querido Gustavo Gitti



Ao ver as filmagens da recente violência na “Cracolândia”, em São Paulo, fica clara a divisão da sociedade: observe como se olham ativistas, policiais, governantes e as pessoas que ali sobrevivem. Parece não existir um sonho convergente, que poderia nos levar a soluções como as implementadas em Portugal e na Suíça.


Qual a saída para esse e todos os outros problemas? Como diz Matthieu Ricard, por mais complexa que seja a questão do aquecimento global ou da concentração de renda, tudo se reduz a duas atitudes mentais: altruísmo e egoísmo. Ele diz que só o altruísmo é capaz de conciliar três escalas de tempo: a economia a curto prazo, a qualidade de vida a médio prazo e o meio ambiente a longo prazo. Portanto, o melhor eixo para direcionar tudo o que sonhamos e fazemos é a compaixão: a mente que deseja aliviar o sofrimento e trazer benefícios em todas as direções.


A compaixão não é mais uma teoria. A compaixão move nossa energia tão diretamente como faz um sorriso genuíno. É a expressão mais simples e profunda do nosso coração. Assim como não é preciso convencer uma pessoa de que ela é humana, não tem como discordar da compaixão: nós nascemos disso, somos feitos disso. A compaixão não precisa de campanha publicitária, slogan, palestra com slides, fundo de investimento, advogado de defesa, partido político ou lei. Só a compaixão é sempre vitoriosa.


Como se existisse um argumento imbatível, um movimento apoiado por todos ou uma canção com a qual não tem quem não dance, quem pratica compaixão não vê opositores ou adversários. A compaixão é o grande espaço além das bolhas e jogos limitados. Só a compaixão consegue nos unir instantaneamente, antes mesmo do “Oi, prazer…”. Após um tsunami, ninguém pergunta sobre filiação política, gênero, etnia ou time de futebol: todo mundo se junta para a reconstrução. Além dos extremos da indiferença e do desespero, a compaixão é a melhor resposta diante do sofrimento. Especialmente quando parece que precisamos de algum outro conceito ou modelo inovador, o que está faltando é compaixão.


Compaixão é a grande tendência do momento.

Sempre foi, sempre será.


Se todos os seres se movem evitando o sofrimento, compaixão é o grande propósito por trás de todo e qualquer propósito. Não tem segredo, não é pessoal, não é algo exclusivo de alguém, não precisa gastar dinheiro com workshops e livros do estilo "Encontre o seu propósito".

Precisamos aprender, pesquisar, palmilhar, refinar, estudar, imitar, praticar, conversar, respirar compaixão, explorando suas implicações em absolutamente todos os âmbitos da ação humana. Quais as inteligências da compaixão e como praticá-las? Como seria ampliar a compaixão aqui? E ali? E na educação? E nesse trabalho?


Há métodos não-religiosos para isso, como o Compassion Cultivation Training, curso de 8 semanas na Universidade de Stanford. Um bom começo é a leitura de Um coração sem medo, de Thupten Jinpa (geshe tibetano, doutor pela Universidade de Cambridge e tradutor de Sua Santidade o Dalai Lama), livro acessível, cheio de histórias e também de instruções práticas — servindo como o único material em português sobre o programa de cultivo da compaixão que Jinpa desenvolveu com outros pesquisadores do CCARE (Centro de Pesquisa e Educação da Compaixão e Altruísmo), em Stanford.



Sua Santidade o Dalai Lama e Thupten Jinpa


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